quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Conversa de...Bats ( Este Natal )
- Morzinho, já ligaste há família a desejar boas festas?
- Tás parva ou quê? Tou farto de gastar guita para a rede telefónica, só à tua pála são 25€ todos meses..
- Mas morzinho..
- Morzinho o catano, a tua família é numerosa, os meus amigos/conhecidos são às centenas, eu não sou rico..mas olha, sou esperto, vou fazer uma cena muita melhor.
- Ai sim, o quê? Conta, conta.
- Então topa lá isto, sabes que existe aquela coisa nova na net, que é muito falada hoje em dia, o " Facebook " , tás a acompanhar?
- Sim, continua.
- Então, a solução é a seguinte, criamos um perfil de nós com uma foto toda do cenário, tás a ver, depois adicionamos a malta e metemos lá no Mural...
- Mural?
- Epá é uma espécie de parede onde a malta escreve os recados, tipo o Lani quando come nas costas das presas, deixa lá a marca a dizer que foi ele que lá chupou, percebes?
- Há, isso muito bom.
- Pois é, e melhor ainda, custo ZERO.
- Então escrevemos lá no tal Mural uma frase a desejar Boas Festas, apanhaste tudo?
- Isso é mesmo bom, a custo zero podemos escrever mensagens em vez de telefonar ou enviar sms´s.
- Exactamente, assim escusamos de ligar para aquela malta toda e não levamos com aquelas conversas do tipo " há um ano e tal que não te vejo, já não falamos há imenso tempo, tá tudo bem e tal "...é uma das vantagens das redes sociais, nem precisas de sair de casa, nem de ver ninguém, nem de gastar dinheiro.
- Há...está bem...
domingo, 19 de dezembro de 2010
Derrotado
Senti que o meu coração foi violado, como um embrulho, desembrulhado
As tuas palavras frias, o teu olhar doce, uma química que veio para ficar, por tempo indeterminado
O teu riso transformado em gargalhadas, contagiante, diria até, humilde
Entrego-me a ti, sem forças, porque desejo-te, porque te quero, inesperado
Não olho para trás mas às vezes recordo, momentos passados por outros tempos
Nada pude fazer para alterar o percurso, ele estava traçado nas minhas veias, uma conduta fértil
Até ao momento em que as palavras passaram a acções, quentes e saudáveis, pausas distintas
As despedidas secas, abraçadas por por um beijo, ou dois, percorrendo os teus lábios
O medo afastou-se, bateu tão forte que o repeliu, deixando-se levar, como o tempo perdido
As tuas lágrimas salgadas, encheram-me de força, libertando-me de receios, deixando-me assim levar
Percorrendo o teu pescoço, a tua face branca, suave e estimulante, algo me atrai e me mantém preso nela
As conversas, as experiências, os carinhos, o amor nela envolvido, ainda que por vezes escondido, liberta-se
Um aglomerado de sensações que solidificam com o tempo útil de duas vidas criando algo belo e, por isso, me deixo derrotar esquecendo o que passei abraçando um novo rumo: o rumo do amor.
As tuas palavras frias, o teu olhar doce, uma química que veio para ficar, por tempo indeterminado
O teu riso transformado em gargalhadas, contagiante, diria até, humilde
Entrego-me a ti, sem forças, porque desejo-te, porque te quero, inesperado
Não olho para trás mas às vezes recordo, momentos passados por outros tempos
Nada pude fazer para alterar o percurso, ele estava traçado nas minhas veias, uma conduta fértil
Até ao momento em que as palavras passaram a acções, quentes e saudáveis, pausas distintas
As despedidas secas, abraçadas por por um beijo, ou dois, percorrendo os teus lábios
O medo afastou-se, bateu tão forte que o repeliu, deixando-se levar, como o tempo perdido
As tuas lágrimas salgadas, encheram-me de força, libertando-me de receios, deixando-me assim levar
Percorrendo o teu pescoço, a tua face branca, suave e estimulante, algo me atrai e me mantém preso nela
As conversas, as experiências, os carinhos, o amor nela envolvido, ainda que por vezes escondido, liberta-se
Um aglomerado de sensações que solidificam com o tempo útil de duas vidas criando algo belo e, por isso, me deixo derrotar esquecendo o que passei abraçando um novo rumo: o rumo do amor.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
E no meio disto tudo...
Sinto-mebemcapazdeobservar
viOutravezoteusorrisomanhoso
eoteUolhartraiçoeiroeoventoal
evantaroteucabelocompridoelo
iromasfuiFortecomigomesmoec
onsegui-meErguerlevantandoavo
zmandei-tepuLarparaoraioquete
partasuamesquInhahipócritanao
sabesoqueéaamiZademaseusei
viOutravezoteusorrisomanhoso
eoteUolhartraiçoeiroeoventoal
evantaroteucabelocompridoelo
iromasfuiFortecomigomesmoec
onsegui-meErguerlevantandoavo
zmandei-tepuLarparaoraioquete
partasuamesquInhahipócritanao
sabesoqueéaamiZademaseusei
domingo, 5 de dezembro de 2010
Conversa de...Bats
- Irra, a tua mãe hoje estava demais, rais parta.
- Oh morzinho, não digas isso..
- Como naum? Cada vez que ela abria a boca eu tinha que falar manso, como aquele cavalo onde fomos jantar hoje, mansiiiiiiiinho, dasss...e velho.
- Não sejas assim, ela só tem ido às vacas magras, anda fraquinha, não se pode afastar muito.
- Estás sempre a protegê-la, que raiva.
- Ela até gosta de ti.
- Gosta o carraças, esse é que gosta de mim, nunca me larga, é como a tua mãe, sempre a pedinchar cada vez que lá vou, dasss.
- Oh, ela é um doce de morcego, mas é tímida a falar e a expressar o que sente.
- Doce??? A ver se não me esqueço de a chupar quando faltar as gomas cá em casa..
- Lá estás tu, deixa-te de gracinhas, parvo.
- Esta conversa toda já me deixou com fome, vou mas é ali à cabra da vizinha dar uma chupadela..
Passos
Ar pesado, tipo estranho, muitos dizem assim ser. O aspecto daquele que é visto todos dias, da semana, a passar por ali, com uma certa pressa.
Muitos não sabem quem ele é, também não se interessam, por assim dizer, procurar informações a seu respeito.
Um vulgar comum a tantos outros, ainda que não passe despercebido para alguns.
Ele contêm algo, que nela desperta curiosidade, não sabe bem o que é, mas algo a intriga, talvez o ache atraente, talvez arrisque uma abordagem, quem sabe...
Naquele dia de sol, uma terça, naquele preciso momento , ele passou por ela, meramente ao acaso, mas desta vez acompanhado por uma moça, bem gira por sinal. Seu ar pesado, tinha desaparecido por completo, nem parecia o mesmo homem que ali passava todos dias, da semana.
Ela ficou de pé atrás, pois aguardava por uma oportunidade de o abordar, ainda que disparatada. Seus olhos transmitiram um cenário triste, como tal, deixou-se ir abaixo acabando por desistir.
Mais tarde veio a descobrir, que aquela moça, gira, seria irmã dele, segundo dizia a cusca da vizinha, ela iria casar-se em breve.
Esperançosa, foi a correr para casa toda contente, algo mexeu com ela, de novo, vestiu a melhor roupa que tinha, maquilhou-se toda cheia de intenções, ficou lindíssima, diria mesmo, um espanto, para alguém tão franzina como ela. Mas quem a conhece, sabe que é uma jóia de pessoa.
Espevitada, foi a correr para o café, onde ele costumava ir ao fim do dia, na esperança de o encontrar e tentar desta vez, meter conversa, quiçá, quiçá.
O tipo entra no café, 19h42, pede o que deseja e senta-se na mesa, abrindo uma revista que trazia consigo, algo sobre fotografia.
Ela assim que o vê, começa a tremer, suas mãos começam a ficar geladas, o receio de que a sua tentativa seja frustrada instala-se no seu cérebro, dominando-a por completo. Também não era por menos, sentou-se perto dela, pois não havia mais mesas disponíveis.
Desta vez, foi ela que lhe chamou a atenção, a mesa do lado dele não parava de fazer barulho, parou de ler e olhou para ela. Por momentos, ambos os olhares comunicaram entre si, algo de sereno e calmo se manteve por alguns segundos, até que ele se chegou à frente.
-Estás bem?
-Hum...ESTOU NERVOSA, QUERO TE CONHECER E NÃO AGUENTO MAIS...desculpa, saiu...
Estupefacto, sem aviso prévio, ficou a assimilar o que lhe acabara de entrar pelos orifícios da comunicação.
-Ok, ok, não precisas gritar. Como te chamas?
-Luísa.
-Olá Luísa, eu sou o Vitor...hum, tens sangue na boca...
-Ups, deve ter sido da pressão que fiz nos dentes, estou um pouco nervosa, vou só ali ao WC, volto já.
-Ok.
Apesar do incómodo de Luísa, o diálogo continuou. Passaram a encontrar-se mais vezes, e conheceram-se melhor, Vitor era um entusiasta da fotografia, algo completamente diferente do seu trabalho, era um passatempo, e Luísa, também ela começou a mostrar interesse pelo hobby.
-Escuta, não podemos fazer barulho senão assustas-o.
-Está bem, estou mesmo agarradinha à máquina e pronta a disparar...espera, algo cheira mal aqui, mas que...
-Merda, pisei caca...
Desataram-se a rir e acabaram por assustar o bode, este, agora corria em direcção a ambos, era o alvo da objectiva que Luísa fixara, em vão.
Muitas outras situações caricatas, surgiriam entre estes dois. Havia quem não lhes ligasse nenhuma, outros alguma coisinha, verdade seja dita, o tempo corre, as oportunidades surgem, nem que tenhamos de ser nós mesmos a criá-las, por mais disparatadas que sejam, na nossa cabeça, mas sempre inofensivas.
Algo se pode construir, nem que seja uma pequena, grande amizade.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
domingo, 28 de novembro de 2010
Marlene ( um conto )
Negro, teu olho estava, nem quis acreditar, como foi possível tal crueldade...não consegui conter lágrimas e partilhei a dor, num silêncio absoluto...
Uma noite fria, nós, sentados no banco de trás, o ambiente estava pesado e fechado, o tempo demorado, de tão longe que estavas, mas isso não era importante, importante sim, era o facto de estares segura nos meus braços, longe do medo, do terror, da solidão que te atormentava, um animal ferido...
Exposta, a tua face golpeada, uma mancha na tua face pálida, sinais de que foste frágil e sem forças para retaliar, teu lábio rebentado, sussuraste-me uma palavra...
...obrigado...
Chegados ao destino, o táxi desapareceu, comido pelo nevoeiro...
Gentilmente peguei em ti e carreguei o teu corpo, pesado, frustrado, lembrei-me daquela menina com quem eu brincava na escola, com quem fazia castelos de areia, com quem namoriscava, por quem um dia me apaixonei, era agora uma sombra, gelada, gritando através de suores, agonia, repulsa pelo monstro...esse medo sem linhas, das quais ela não conseguia desenhar, descrever a sua forma seria impossível, desfigurada e destorcida era a sua imagem...
Cuidei da sua pele, acariciei sua face, que sem receio me aceitou, chorou, gritou...
...porquê, porquê...eu não mereço, eu não mereço...eu...eu...
No meu colo, Marlene adormeceu, deixando-se levar...por fim, livre.
Deitei-a na cama e tomei um banho frio. Estava a explodir por dentro, rescaldado - tinha de fechar os olhos e abrandar o meu ritmo cardíaco.
O apartamento dela era simples, com pouca coisa, só o essencial. Não tinha retratos ou quadros colocados na parede desbotada. Havia um quarto sem vida e uma cozinha pouco funcional, notando-se que já não era limpa há algum tempo. Somente a cama estava cuidada; era de madeira, alta, com espaço para uma só pessoa, uma colcha cor-de-rosa e um coração estampado no meio...talvez um sonho de criança.
Por volta da 1h da manhã, algo se agitou dentro da mala de Marlene. Fui ver, era o telemóvel, um sms recebido. Decidi ler a mensagem:
Onde estás tu minha desgraçada? Pensas que podes deixar o serviço assim do nada? Não me faças perder mais dinheiro e volta rápidamente.
Quero-te às 2h45 na Rua Salomão Batista junto à paragem, às 3h tens serviço com um cliente novo e é melhor que não te atrases...
Marlene era prostituta! Nunca me passaria tal coisa pela cabeça - uma imagem totalmente oposta à que tinha na minha recordação. Foi como o ruído de um vidro que se racha, um estouro na minha mente.
Peguei no telemóvel dela e na chave do carro, que se encontrava pendurada na entrada, e saí do ninho.
Na chave estava o símbolo da marca Fiat, de um Fiat UNO, um carro sem valor comercial mas que servia
para se deslocar. Dei à chave pela quarta vez e lá pegou. Precisava de tomar um copo. Desloquei-me até ao bar onde nos costumávamos encontrar para meter a conversa em dia. A nossa última vez tinha sido à dois anos, no meu aniversário, quando recebi um beijo verdadeiro, um beijo que mudou tudo, a nossa amizade, o nosso rumo...
Entrei no Gordini´s Bar. Reparei que algumas coisas tinham mudado, uma pequena pista de dança no meio, um palco mais à frente. Junto do wc, umas escadas que levavam à parte de cima onde continham mesas, o balcão do lado direito com uns bancos redondos. No tecto, colunas de som e algumas máquinas giratórias com luzes de variadas cores. Era um bar de Strip.
- Boa noite, que deseja?
- Um whisky duplo sem gelo e um maço de tabaco, do mais barato por favor.
Acorda...
Abri os olhos, senti uma dor de cabeça terrível, devo ter abusado do wisky, ou então alguém me deu uma pancada na cabeça, não me lembro, já não bebia nem fumava há bastante tempo. Acordei sentado na retrete do WC com a cara encostada à parede, o meu hálito, esse, deixava-me mal disposto. Levantei-me e abri a porta, as luzes do lavatório piscavam, caminhei para lá, precisava de lavar a cara, a luz desapareceu por uns instantes.
Abri a torneira e comecei a lavar as mãos e a face, sabia tão bem, de repente a luz voltou e o lavatório continha manchas de sangue, a poça de água estava avermelhada, afastei-me e peguei na toalha para me limpar, mas também esta estava com manchas vermelhas, mas o que se passa aqui???
Assustado, saí do WC e fui a correr até ao interior do bar, não estava preparado para o que os meus olhos me transmitiam, um cenário macabro. Corpos deitados no chão, outros em cima das mesas, balcão, só restos do que foram...
Sentei-me, estava apavorado com o que via, era real, estava mesmo à minha frente, já não conseguia estar sentado e dirigi-me até ao balcão, precisava de um copo, de um cigarro, tinha que me acalmar. O que terá acontecido enquanto estive no Wc??? Quem terá assassinado todas estas pessoas??? Porquê???
Bebi de uma só vez um gole de wisky, tirei o maço de tabaco do bolso, puxei de um cigarro, mas não encontrei o isqueiro, olhei para o chão e lá estava ele, junto da mão de uma mulher, tinha os seios à mostra, devia ser uma stripper...
Corri até ao carro, estava aberto, nele continha algo embrulhado numa toalha, desenrolei, era uma arma. Mas o que fazia no carro de Marlene?
- Estou? Francisco?
- Quem fala?
- Sou eu, o Karl.
- Que aconteceu??? Que horas são???
- Escuta Francisco, estou aqui à tua porta, preciso de um grande favor teu, por favor.
- Está bem, está bem, dá-me dois minutos...
- Entra.
- Que se passa, Karl?
- Eu não tenho tempo para explicar, acho que estou a ser incriminado, preciso da tua ajuda com o laboratório e...
- Espera, tu voltaste ao activo, Karl?
- Não...mas escuta, é muito importante, por favor.
- Karl, há dois anos que não nos dizes nada, deixaste-nos, e agora apareces do nada a pedir-me um favor? Nem apareceste ao funeral do pai...que se passa contigo, Karl?
- O pai, faleceu?
- Sim, o ano passado, está sepultado ao lado da mãe, se é que te lembras onde é...
- Lembro-me, sim...
- Escuta, Karl... o pai antes de falecer, disse-me para te dizer que te amava muito, ele acreditou em ti, nós acreditamos em ti.
- Podias ao menos ter-me deixado um contacto, sei que foi difícil para ti teres deixado a Judiciária daquela maneira, mas a vida continua, não te podes culpar pelo que aconteceu, não foi justo.
- Francisco, por favor, agora não, falamos sobre isso mais tarde, eu preciso que me ajudes.
- Está bem, Karl, fala.
- Eu ontem ajudei uma amiga, ela levou uma tareia de alguém e pediu-me ajuda, levei-a até ao apartamento dela, depois fui até um bar beber um copo, precisava de acalmar.
Só me lembro de ter acordado sentado na WC com uma terrível dor de cabeça, ao sair, o bar tinha corpos espalhados pelo chão e...
- Corpos, como assim?
- Pessoas baleadas por uma arma, que suponho que seja esta.
- Uma Semi-Automática? Onde arranjaste isto?
- Estava dentro do carro da minha amiga, o que conduzi até ao bar. Encontrei embrulhada nesta toalha, no banco do carro, antes de vir para cá. Preciso que a leves para o laboratório e tentes descobrir alguma coisa, por favor.
- Eu vou ver o que posso fazer...
Karl, precisas de descansar, podes dormir aqui um pouco se quiseres.
- Não, tenho que ir ver se a minha amiga está melhor, depois ligo-te logo à noite, adeus.
Fui até ao apartamento de Marlene.
Ao abrir a porta, fui empurrado para o chão e pontapeado violentamente, acabando por perder os sentidos...
Acorda...
Abro os olhos, a última imagem que tenho, é aquela em que estive no apartamento de Marlene e fui violentamente agredido. Deitado nesta cama, vejo tudo claro, uma janela com raios de sol a fustigar a minha vista, um quadro numa parede com uma figura religiosa, ao lado, uma mesa de cabeceira com um candeeiro raso, junto dele, umas revistas e encostado, um envelope castanho. Estou dorido demais para me esticar e agarrá-lo.
Tenho um botão por baixo do dedo, decido fazer pressão…aproxima-se uma enfermeira
- Sr. Karl, consegue ouvir-me?
- Sim…consigo…
- Vou chamar o Dr. Antunes e volto já Sr. Karl.
- Eu…tenho…sede…preciso…água…
- Eu não demoro Sr. Karl, e trago-lhe a água, fique descansado.
- Bom dia Sr. Karl, como se sente?
- Agora que bebi a água, muito melhor.
- O Sr. Karl, esteve em coma durante três anos, sete meses, duas semanas e oito dias, tudo graças à melhor tecnologia disponível no nosso hospital, e principalmente à sua Marlene.
- À minha Marlene? Onde está ela?
- A Sra. Marlene, durante todo o tempo em que você esteve em coma, nunca faltou um dia de visitas, vem todos os dias à mesma hora, às 14h para ser mais exacto. Vai ficar radiante, ela nunca perdeu a esperança, sempre acreditou que poderia ser possível, nunca desistiu Sr. Karl.
- O seu irmão, enquanto vivo…peço desculpa, mas o seu irmão faleceu dois anos depois do seu internamento, suicidou-se…
- O quê? Suicidou-se? Por favor, não estou a perceber, como é possível? Porquê?
- Ele deixou aquele envelope para si, tínhamos ordens para nunca abri-lo mesmo que o Sr. não acordasse do coma, por outras palavras, seria enterrado consigo, intacto. Cumprimos a promessa, aqui está.
- Por favor, deixe-me um pouco sozinho, preciso de espaço.
- Como queira, voltarei mais tarde para falarmos melhor. Até logo.
Estou sem palavras, um vazio frio percorre-me pelo peito, como uma faca afiada…
Abro o envelope e nele contém uma folha com a letra de meu irmão, começo a ler…
Mas nesse mesmo instante, a porta do quarto abre-se, era Marlene. Estava magra e branquinha, com uma expressão de alegria mas ao mesmo tempo, vazia, fria.
Veio-me um sentimento que não consegui descrever, inclino-me para a frente, vejo-a a fechar a porta à chave e dirigir-se a mim, com lágrimas nos olhos, ambos nos abraçamos e beijamos...Marlene levanta o meu lençol, puxa a minha bata para cima, acaricia o meu pénis com a mão direita, com a mão esquerda no meu pescoço, puxa-me para a frente e beija-me sem tréguas...agora erecto, Marlene começa a fazer-me sexo oral...
Veio-me um sentimento que não consegui descrever, inclino-me para a frente, vejo-a a fechar a porta à chave e dirigir-se a mim, com lágrimas nos olhos, ambos nos abraçamos e beijamos...Marlene levanta o meu lençol, puxa a minha bata para cima, acaricia o meu pénis com a mão direita, com a mão esquerda no meu pescoço, puxa-me para a frente e beija-me sem tréguas...agora erecto, Marlene começa a fazer-me sexo oral...
- Marlene...pára...pára...
Que se lixe, o desejo é mais forte que eu...Marlene abocanha-me o pénis cheia de desejo, agarro-lhe os cabelos com força...agora começa por despir o vestido branco, como se de uma boneca tratasse...aperto-lhe os seios como em forma de moldar algo bonito. De seguida penetro-lhe com o dedo...tão quente, tão húmido...Marlene pega nele e mete-o na boca, que visão...ela agacha-se e encaixa a sua vagina, gasta do trabalho, mas ainda com uma réstia de pujança, ao que nunca iria negar. O sexo era silencioso e ao mesmo tempo apaixonante, mas com as horas contadas...venho-me dentro dela, como um cavalo de corridas acabado de cortar a meta, e suspiro de alívio...
Toc..Toc..Toc
- ABRA A PORTA IMEDIATAMENTE.
Merda...era a enfermeira...Marlene veste-se depressa e abre a porta enquanto me recomponho...
- Peço desculpa, só queria um momento a sós com o meu Karl.
- Isto não é um Motel, ouviu.
- Não precisa de ser arrogante, sra.
- A hora da visita acabou, no meu turno não falha absolutamente nada, agora saia por favor.
- Karl, querido, volto amanhã, talvez tenhas alta e voltes comigo para casa, agora descansa, amo-te...
Também te amo...
- Sr. Karl, veja se dorme que amanhã começaremos o exercício, tem que se mexer, ouviu?
-Até amanhã.
sim...sim, agora descanso é o que mais preciso...sua besta...
-Patrícia, está na minha hora de deixar o turno, precisa de alguma coisa?
- Não, dona Sandra, obrigado.
- Não se esqueça de dar um olhinho no quarto do Sr. Karl, até amanhã e porte-se bem.
Já são duas da manhã, hora da ronda.
Quartos de 1-7, tudo ok, quarto número 8, Sr. Karl, deixa cá ver se está tudo ok...tudo certinho...deixaram aqui uma carta no chão...como não tenho nada que fazer, vou aproveitar e leva-la para o gabinete a ver o que contém, mais logo volta para o seu lugar, com ele a dormir nem dá por nada.
Hum, deixa-me cá ver primeiro a ficha do Sr. Karl, ora...cá está, bolas, está um pouco desarumado, só espero é que não me metam a mexer nisto só por ser estagiária...ora bem, 3 anos em coma,...esquisofrênico...nada demais, vou arrumar...mas o que é isto, uma segunda ficha?
Karl Martins...ex agente da Policia Judiciária...internado quatro anos numa clínica de reabilitação...problemas relativos a dupla identidade…já estou assustada. Vou ler a carta depressa antes que ele acorde.
Karl, o objecto que me entregaste para analisar, na noite em que foram mortas as pessoas do clube, a “ Semi-Automática “, tem as tuas impressões digitais, são tuas...fiz os testes vezes sem conta, nem quis acreditar...podes confirmar com os teus própios olhos, os testes estão junto desta carta. Foste tu que as mataste...
Não devias ter-me escondido o teu problema, sempre gostei de ti, podia ajudar-te...agora não posso...adeus...e perdoa-me.
Oh meus deus, Karl é um assassíno…mas aqui não estão testes nenhuns na carta, alguém os tirou. Tenho que voltar para o quarto dele.
Estou cheia de medo, isto é demais para mim…ufff ufff, calma, ele está a dormir, vai ser rápido, coragem, coragem…
Patrícia caminha para o quarto nº 8, nervosa mas silênciosa, todo o seu corpo treme, na sua cabeça passam mil e umas coisas, todas sombrias, à medida que se aproxima do quarto, a sua pulsação aumenta.
Ok, Patrícia, controla-te, abre a porta devagarinho…certifica-te que “ Ele “ está a dormir…ok, caminha até à mesa de cabeceira e pousa a carta…
No momento em que Patrícia pousa a carta, Karl agarra a sua mão, com toda a sua força, puxa-a para o seu leito de repouso tentando sufocá-la até esta perder os sentidos, mas tem azar, ela é esquiva e consegue agarrar o candeeiro e parti-lo na cabeça de Karl, este fica inconsciente.
Patrícia, dirige-se para o gabinete numa corrida frenética e aos gritos a pedir por ajuda, o segurança consegue ouvi-la e aproxima-se.
- Ele quer me matar, ele quer me matar…
- Acalme-se, o que se passa, o que se passa?
- O paciente do querto 8, ele quer me matar…
- Fique aqui e chame a polícia, depressa…
Chegada ao gabinete, Patrícia pega no telefone frenéticamente e faz a chamada e explica o sucedido à agente do outro lado da linha.
O segurança chega ao quarto nº8 e…não vê lá ninguém, apressa-se a correr para ir ter com Patrícia, pois esta corre perigo.
Silêncioso, Karl aparece por trás da estagiária pronto para atacar, começa a apertar-lhe o pescoço com tanta força quanto pode, esta ainda tenta gritar mas começa a perder as forças e, lentamente, os sentidos. Mas por milagre, o segurança consegue chegar a tempo de dar-lhe uma pancada na cabeça, Karl desmaia.
Rápidamente o segurança acolhe Patrícia nos seus braços e tenta reanimá-la, por fim ela volta a si.
Karl, foi preso por tentativa de homicídio, tem acompanhamento médico e psicológico uma vez por semana, tal como as visitas, e neste dia, teve uma.
- Marlene?
- Sim, meu amor.
- Eu estou inocente, tens que acreditar...
- Shhhhhhh, não fales, só vim aqui para te mostrar uma coisa muito valiosa para ti.
- O quê?
- Umas análises, de um objecto que te pode incriminar, meu amor...mas fica descansado, o meu amor por ti, é infinito.
FIM
Reencontro
Décimo terceiro andar, não tinha mais por onde subir, estava apertado de espaço e ofegante, o café também não ajudou. Parti a puta da porta e o ar húmido e frio da noite entranharam-se nos pulmões, merda para o tabaco, só problemas.
Ouvia o barulho de dezenas de botas a chegar cá acima, também não me ralava muito, a minha hora avizinhava-se curta e já sem nada para oferecer, nada...
- Já temos a ambulância e os bombeiros a caminho, a partir daqui assumimos o controlo, suspeito que o sujeito vai cometer suicídio voluntário, temos que evitar que caía, nem que tenhamos de recorrer a disparos para o imobilizarmos, entendido?
- Sim
- MÃOS AO ALTO.
A voz da autoridade já não fazia sentido, sabia bem o que tinha acontecido, e o que me esperava. Para trás ficou uma mulher e filho, assassinados por um assaltante de meia tigela, tudo por causa da mala nova, que com tanto esforço e carinho, ofereci à minha mais que tudo. Teve mais olhos que barriga e ceifou a vida deles, deixando-me só, sem nada mais para amar. Sociedade nojenta esta, que deixa estas ratazanas cada vez mais grávidas e sedentas, pelas entranhas das ruas e jardins, apanhando tudo o que aparece a troco de trocos ou quase nada, parasitas...
- MÃOS AO ALTO.
Nem tive tempo de me despedir, de dar um beijo de boa noite ao meu menino, quatro anos...quatro anos...tinha tantos planos para ele, seria só tu e eu, só tu e eu...e a minha morena, os teus olhos castanhos, gravados na minha memória...tão felizes que fomos, foram os quinzes anos mais felizes da minha vida, agora reduzidos a estes breves momentos, momentos de solidão, angústia e medo, daquele que cá ficou, destroçado...
- AFASTE-SE DA BEIRA, VOLTE PARA TRÁS.
Onde quer que estejam, irei estar convosco, irei abraçá-los com toda a força que tiver, quero acreditar que sim...
- VOLTE PARA TRÁS OU DISPARAMOS.
Tarde demais, já nada me prende aqui, só levo comigo a foto de nós os três, alegres...contigo a soprar as quatro velas...com a morena a fazer-me cocegas...o meu pai que tirou a foto, ria-se de perdido, ainda me lembro das várias tentativas para tirar esta foto...meu querido pai...
Já vou a caminho...preciso...
Bang Bang Bang
..de vocês...
Por vezes, algumas almas deixam o seu estado, para voltarem novamente ao mundo dos vivos, talvez por injustiça, como se processa, ainda ninguém sabe.
- Força, força.
- Haaaaa...haaaaaaa...
- Está quase, mais um pouco de força.
- Huummm, haaaaaa...
- Já está, que bébé tão bonito.
Sopra
A razão que arrasta contigo
No fundo que teima não ter fim
Entre a pele visivelmente esticada
Por entre o frio que se chama intacto
No lado sombrio que reforça a barreira, forte será a sua queda.
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