quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Lágrima Perdida

O sentido do norte ouve a máquina e dentro dela numa carruagem encontra-se uma Sombra, esta ouve uma campainha de bicicleta e vê um sorriso de uma criança. Algo passa-lhe no pensamento mas não consegue decifrar o quê, algo ofuscante como se de um acordar se tratasse.
A besta ruge agora e a energia que move as rodas do comboio produz um som semelhante ao seu batimento cardíaco, o som do desejo como um pêndulo de relógio dourado, suave como os seus lábios. Alguém a espera e uma brisa diz-lhe algo que a  deixa confusa fazendo sentir-se presa pelas correntes de ar que começam agora a confrontá-la, como pancadas secas no peito, mas ela não desiste, quer saber o porquê.
A campainha toca uma e mais uma vez e o céu outrora límpido começava agora a perder os sentidos e a tornar-se tenebroso fazendo com que o elemento se aproximasse dela, um furacão fazendo desaparecer tudo no seu caminho. A criança surge com um sorriso de inocência, mas a imagem torna-se rapidamente desfigurada, como uma tela de picasso triste e abstracto perdido numa cave de marfim.
O momento que os junta está agora presente a meio caminho, o Vento puxa a Sombra para si e diz-lhe que não a pode ter pois ela partiu, desacreditada olha para o Vento olhos nos olhos e pede-lhe para a ver, está incrédula.

Um feixe de luz solar ilumina a Sombra mostrando ao Vento o seu rosto, tons de fruta doce e límpida com pequenas partículas de recordações transformadas em lágrimas. A criança abraça o Vento e este despede-se com um grande sopro que a faz apanhar o rumo certo em direcção à luz, a luz de uma vida que deixou de existir. 

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