sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Sr. Juizzze

De soslaio apontas o olho para mim como quem não quer a coisa, eu ignoro-te com a certeza de um querubim que não chora mas que queima sem derreter. Serei plácido até o demónio do azedo libertar as cigarras entoando assim o ruído pavoroso do teu rosnar.
Pequena libélulazinha, que linda que és, um perfeito conjunto de letras contidas provocadas por um sonoro tiro na lápide, bum. O excesso de confiança liberta-te de pontos já polidos pelo desgaste da fronteira negativa do opaco em uníssono com as vozes da tua zona interna de cucos, que paródia tão vulgar minha pequena obtusa.
A mente brinca ao som de nuvens a surfar os céus em entrelinhas, como Deus a desgostar os fieis a quem tanto lhe devotaram tempo e esperança, desiludidos. Venha, venha a nós Sr. Juizzze, daí-nos o palavreado da coragem e do saber e fazei de nós cães com sardas nas patas e chamai-lhes sinais da pele ou doenças, tanto me faz, tanto me aperta...


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Tenro Assobio

Por vezes a partilha torna-se difícil, as corujas não se manifestam e o miolo envolto de saliva caí, assim se faz um murmurinho à volta dos que não sonham, dentro de um ninho confortável mas injusto, pois só crescem os mais fortes. Idealizar o que nos faz mover é por vezes tudo o que resta neste mundo piranha, devorados pelo sistema para nos fazer perder tempo, evitar o bom do outro lado da porta e deixar secar. 
A rotina ensina o lado visível da monotonia sem cerimonias, só lamentos disto e daquilo derivados da eletricidade que nos rodeia, esquecidos. Os astros têm pregado partidas à constelação, orientados pelo horário da sociedade, indivíduos solitários a bater com a cabeça nas paredes sujas do crime, miséria ressequida de um lobo franzino já sem dentes.
Esporadicamente, faz-se luz sobre uma cama de cartão impulsionada pela bondade reflectida por um búzio vazio a milhas de distância, sim é possível mesmo para aquelas que cacarejam insultos atrás de um muro de girassóis. Do outro lado da janela perscruta o medo, o escuro, ansiedade por uma trela solta, uma escapatória milagrosa com frutos à vista.
O sentido correcto é aquele que queima no candeeiro a óleo depois de umas velas frustadas, a chama já gorda não quer outra coisa senão consumir os olhos do utente, cansado e triste. Voa esperança, voa, voa que os teus olhos são lindos e quentes e não dão suspeitas a ninguém, e assim consomes o povo...

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Navegando em Ti

Ondas de lençol reabrem no mar
Na linha de água salpicos de ti
Pontos de tinta da china
Tocam-te nos seios hirtos
A sinalização a estibordo nota-se
Posição íntima revela nudez
O cargueiro penetra o porto
Gemidos cavernosos do teu remoinho
Limonada espumosa na rebentação
O fundo do mar mexe-se a teus pés
Abocanhas o norte da corrente
Gemendo e arranhando o costado
Engoles o caudal suavemente
Como pedaços de vidro colorido
Deslizando pelo umbigo infernal

Mais uma vez explorada e sentida, moves o pior dos mares numa profunda nostalgia...