domingo, 30 de setembro de 2012

Doce Rebuçado

A agonia deixa-me o sangue a ferver, impulsionado pela má gestão de sentimentos que se perdem agora na vastidão do negro, do frio, da alma. Sinto-me invadido pela influência da tua sombra, pela crueldade dos mortais, pela ansiedade dos fracos em tentarem curar a ressaca da vida. Quero libertar-me de ti, quero sentir a bondade do humilde, do justo, da liberdade, não quero ser o teu doce prisioneiro.
Deixa-me sair, tira-me as algemas ferrugentas destas mãos gastas, das pernas já comidas pela imundice que cheiram a putrificado, esse teu combustível tão desejado que não trocas por nada reflecte neste teu covil miserável fomentado pelo desespero. 
Cicatrizes de um moribundo que já carece de forças, inapto para voltar ao mundo vê-se agora nas portas do teu corredor esperando pelo pior, o arrependimento fecha-lhe os olhos pela última vez recordando memórias de um espaço outrora conquistado. O panda perneta aproxima-se roçando pela ultima vez o seu lombo recheado de vermes, lançando-lhe um olhar de carinho e saudade, mas agora velho e gasto parte para o forno da sua cumplicidade.

O fumo de uma alma cremada intensifica-se naquele espaço, um incenso de corrupção e lealdade, quem me dera que tivesse sido eu...

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